Um sítio português na Web
A Torre de Babel da Fórmula 1
Por MIGUEL CRESPO
Segunda-feira, 29 de Março de 1999

FotoPor prazer pessoal, começou a recolher e tratar informaticamente dados de Fórmula 1. De repente, o "hobby" teve aplicação prática e logo depois nasceu o Formula One Results and Information eXplorer (Forix), um sítio na Web onde se pode encontrar tudo o que existe sobre F1 em mais de 30 línguas. Criado pelo português João Paulo Lopes da Cunha, o Forix está recheado de notícias, efemérides e histórias que podem ser consultadas em português, espanhol, francês ou inglês, e ainda em línguas menos usuais, como búlgaro ou maltês.

Lopes da Cunha é o "mestre de cerimónias" mas não reivindica todos os louros da vitória, pois o Forix pretende ser também um espaço de colaboração: "Se é certo que estou a oferecer um pacote básico de informação sobre a F1 como não há outro, na Web ou em publicação escrita, também é claro que são as ofertas regulares [fotografias de amadores, comentários em várias línguas ou detalhes de "chassis" utilizados] que recebo de todo o mundo e incluo no Forix que o tornam verdadeiramente único e um prazer em manter", confessa. É um sítio de "todos para todos" no mundo da Fórmula 1. "Eu dei o empurrão inicial, continuo a conduzir, mas há muitos a pedalar a meu lado. Obviamente, a 'bicicleta' tem o tamanho do mundo e seria impraticável sem a Internet."

Quando se entra no menu do Forix ( www.forix.com ), descobre-se uma lista imensa de países e línguas em que a informação pode ser consultada. "A primeira versão do Forix consistia em dois conjuntos paralelos de páginas HTML estáticas (embora criadas automaticamente), um em português e outro em inglês. A evolução da tecnologia apontou para a criação de uma base de dados a partir da qual fossem geradas dinamicamente as páginas pedidas pelos utilizadores. Neste modelo, torna-se muito simples a publicação em outras línguas: basta ter as necessárias tabelas de tradução. A partir daqui, a pergunta não será tanto 'Porquê tantas línguas?' para passar a ser 'Porque não a língua X?' E esta tem sido uma pergunta colocada por leitores de pequenos países, como por exemplo a Estónia, ou de línguas minoritárias como o catalão. E em todos os casos tem havido uma reacção de entusiasmo quando convido alguém para participar no processo de tradução."

O Forix já está disponível 35 línguas, estando em fase de tradução para algumas línguas importantes, "como o coreano e o malaio", e para outras de menor audiência (islandês e macedónio) e uma língua paradigmática: o esperanto, curiosamente a cargo de um professor da Universidade de Aveiro. "Mas ainda procuro um tradutor para mirandês!", adianta Lopes da Cunha. Esses colaboradores "têm sido inexcedíveis na promoção local do Forix": "É com imenso prazer que recebo mensagens como a do tradutor para maltês: 'Tenho um óptima notícia! Fui convidado para falar na rádio sobre o nosso sítio!'. Ou a do tradutor para búlgaro: 'Recebo muitos comentários de búlgaros sobre a nossa versão do Forix. Estão todos muito contentes por terem finalmente um sítio onde podem ler sobre o seu desporto favorito na sua própria língua."

Embora o Forix esteja sempre actualizado (o que não é frequente nos sítios da Web), João Paulo não considera difícil a tarefa. "A actualização correspondente aos Grandes Prémios que se vão realizando ao longo do ano é relativamente simples e quase pode ser vista como um subproduto do acompanhamento exaustivo do acontecimento que sempre faço no decorrer do fim de semana."

Há alguns anos a informação teria de ser recolhida através dos meios de comunicação tradicionais - televisão, rádio, jornais e revistas. Mas hoje "é a própria Internet que nos oferece, quase em tempo real, praticamente tudo quanto necessitamos. Depois é só colocar cada peça na gaveta adequada, 'dar à manivela' e ... já está!"

Alguns detalhes, no entanto, só podem ser obtidos por quem vive por dentro o meio da F1 e acompanha no local o desenrolar dos Grandes Prémios. "Para os conseguir contamos com o apoio dedicado do jornalista José Miguel Barros, com quem temos colaborado ao longo desta década." Há ainda que contar com as sugestões e actualizações que chegam diariamente de todo o mundo, incluindo "fotografias, comentários, ligações Web, etc. Graças a elas, e apesar de haver somente 16 Grandes Prémios por ano, o Forix é actualizado em todos os fins de semana."

Apesar do aspecto profissional, o Forix tem sido um "hobby" de Lopes da Cunha. Mas o reconhecimento da sua qualidade "tem aberto portas e angariado alguns apoios": "Por exemplo, o espaço no servidor onde se encontra alojado é disponibilizado contra a apresentação de publicidade. E, neste ano, iniciámos uma nova etapa, com a criação de uma secção de notícias diárias no sítio em português. Este espaço resulta da colaboração com José Miguel Barros e assume um carácter marcadamente profissional, que eventualmente se estenderá a outras áreas do Forix."

O Forix, naturalmente, não é único, interessando saber como se relaciona com outros "sites" similares. "A Web é um meio cooperativo por excelência. A informação sobre outros 'sites' de F1 sempre foi uma preocupação do Forix. Por isso, em todas as páginas fundamentais, listam-se as ligações relevantes e pedem-se ao leitor sugestões de ligações para outros sites. Para simplificar a ligação para o Forix, foi disponibilizada uma interface que permite a criação de ligações lógicas, para acesso directo a páginas internas sem ser necessário conhecer a estrutura do sítio. Por exemplo, para obter a página que lista as participações de Pedro Lamy em português, bastará: 'forix.asp?lang=port & dri=lamy & cmd=part'."

Foram também acordadas trocas de ligações entre o Forix e outros sites relevantes para a F1 - o do Autódromo de Monza, do piloto David Coulthard, dos Grandes Prémios da Argentina e da Hungria e algumas das melhores publicações, como a "Atlas F1 Magazine", "Formel 1 Net Magazin" (alemã) ou "Varikko" (finlandesa). O Forix aparece referenciado nas páginas principais desses 'sites', com o consequente acréscimo de visibilidade e número de acessos."


Resultados da Paixão
Por M.C.
Segunda-feira, 29 de Março de 1999

FotoO nascimento do Forix não é fácil de explicar, confundindo-se com o despertar da paixão pelas corridas automóveis em João Paulo Lopes da Cunha (na foto, no jantar comemorativo dos 600 Grandes Prémios da Ferrari realizado em Monza a 12 de Setembro de 1998). "O interesse pela F1 - e o seu misto de desporto, espectáculo, tecnologia - vem de há muito. A primeira imagem que retenho na memória reporta-se ao GP do Mónaco de 1967 e ao acidente fatal de Lorenzo Bandini. Tinha na época 11 anos e não esqueço as imagens televisivas do carro em chamas. Desde então acompanhei como espectador, e praticamente sempre à distância televisiva, a evolução da competição. Vibrei com os campeões brasileiros (Fittipaldi, Piquet e Senna), com os Ferrari e os seus pilotos - Lauda, Villeneuve, Alboreto? E obviamente senti a morte de Peterson, De Angelis e, particularmente, Senna. Ao longo dos anos, fui acumulando literatura especializada e há perto de uma dúzia de anos comecei a introduzir em computador todos os elementos necessários para escrever uma história factual da F1. Incluo aqui as classificações de todos os campeonatos, os resultados de todos os Grandes Prémios, os dados biográficos de todos os pilotos, etc., etc. As palavras-chave eram 'tudo' sobre 'todos'".

Com um manancial tão grande disponível, havia que arranjar maneira de a tratar e consultar facilmente. "Para explorar convenientemente a informação recolhida, criei uma estrutura de ficheiros e programei as aplicações - primeiro em MS-DOS, mais tarde em Windows. O conjunto de aplicações nunca foi pensado como um produto mas sim como uma ferramenta para uso próprio. Com ela, podia gerar os mais variados mapas e estatísticas, que podia então partilhar com outros."

Uma base de dados desta envergadura poderia ter aplicações práticas: "Foi o que aconteceu em 1994 e 95, quando colaborei com o jornal 'Volante' e participei na produção de dois anuários sobre a F1 em CD-ROM editados pela Siii", recorda. Tornou-se então óbvio que a Web seria o próximo meio a explorar. "Primeiro, ainda a tempo para o GP de Portugal de 1995, disponibilizei um guia detalhado sobre todas as edições anteriores, e a partir de Março de 1996 estava na Internet a primeira versão do Forix."

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